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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

ENLATADOS

Existem alguns números na Umbanda que infelizmente ainda não temos acesso. Um deles e que me causa grande curiosidade é o que indica, ou indicaria, quantos pais e mães de santo são formados em um ano, por exemplo, em nosso país. Certamente se fosse possível, chegaríamos num total de várias centenas ou quem sabe, até milhares. A pergunta que fica é se esse grande número de pais e mães de santo formados diariamente estão ou não sendo úteis para a nossa religião.

Pelo que tenho observado, se está dando muito mais preferência a quantidade que a qualidade. Seria fácil e até cômodo buscar justificativa na ganância e na pressa que muitos médiuns têm para terminar logo suas feituras. De minha parte, não concordo com esta justificativa, pois não é incomum que ao iniciar o seu desenvolvimento, o médium sinta-se deslumbrado, fator que pode despertar num iniciado uma necessidade incontrolável de "chegar lá" o mais rapidamente possível. Sendo assim, acredito que a responsabilidade de controlar este desregramento seja justamente daquele que deveria dar o exemplo, ou seja, o dirigente espiritual do terreiro. Mas este, muitas vezes, não dá a devida atenção e importância para um assunto assim tão sério, importando-se apenas em alimentar seu próprio ego ou quando não, seu profundo bol$o.
Algumas casas formam médiuns como linha de produção, espalhando aqui e ali dirigentes enlatados e, como bem sabemos, produtos enlatados tem prazo de validade.  

Seja como for, eles estão ai, pais e mães de santo, alguns cientes de suas responsabilidades e missão, outros, infelizmente, nem tanto. Esses são pais e mães de santo que pouco ou nada sabem a respeito do que significa a responsabilidade do sacerdócio. Vivem procurando explicações e, como não as encontram em suas casas de formação, saem por ai abrindo suas próprias casas, templos ou terreiros. Não pensem que estou falando de casos isolados ou que não tenho fundamentos para fazer tais afirmações, pois os tenho.

Para que um médium possa ter um dia seu próprio terreiro, ele precisa saber, antes de mais nada, se esta é realmente a sua missão nesta vida. O fato de ter todas as preparações concluídas, por si só, não o qualifica como apto para tal. Para ser um bom líder religioso é preciso ter algumas aptidões, pois, a arte de comandar e orientar pessoas deve ser exercida de maneira tal que não necessite impor-se pela pressão sobre seus comandados. Liderança é uma qualidade que não é comum a todos. O médium que é líder por natureza, uma vez que leve a sério a sua escalada na Umbanda, certamente será, se já não o foi, escolhido pelo Plano Astral para ter a sua própria casa de santo. Lembro aqui que liderança, primeiramente, é uma aptidão da matéria. A formação mediúnica, em qualquer grau ou estágio, serve para dar orientação espiritual ao médium e não para dar-lhe formação profissional. Mediunidade não é profissão.   

Infelizmente, encontramos em quantidade casas, templos e terreiros que são comandados por pessoas com pouquíssima, ou porque não dizer, nenhuma qualificação para o ofício. Pode até que seu dirigente tenha feito as preparações dentro do ritual umbandista, no entanto, a questão que fica para ser respondida é em que condições suas preparações foram feitas. Diploma não é garantia de nada. O que garante a formação de um bom dirigente espiritual, além da doutrina religiosa que lhe será oferecida em todos os estágios de sua caminhada, é a sua experiência, e experiência não é coisa que se adquire da noite para o dia.

Enquanto existirem dirigentes de terreiro formando médiuns como se fossem produtos enlatados, continuaremos encontrando terreiros ruins e que de nada servem para engrandecer, qualificar e tornar a nossa Sagrada Umbanda respeitada por todos os seguimentos da sociedade. Precisamos ter coragem para falar a respeito do assunto e deixar de pensar que isso é problema só dos outros. A Umbanda, apesar de suas várias vertentes, ainda assim é Umbanda e como religião reconhecida por lei deve ser motivo de preocupação de todos, zelando por seus rituais e bons costumes.

Que Oxalá encontre cada um.

Pai Alberto de Oxalá.

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