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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Decisão Absurda

Esperei um pouco para me manifestar a respeito deste assunto, pois queria ver a repercussão do povo de santo junto aos meios de comunicação social. Infelizmente, aconteceu aquilo que eu já previa, ou seja, nada.

Me refiro a decisão do Supremo Tribunal Federal a respeito do ensino religioso nas escolas públicas e particulares. Agora, a escola poderá definir que religião irá "ensinar" aos seus alunos, não tendo mais que respeitar as origens religiosas dos mesmos. Basta que um diretor ou secretário de ensino, por exemplo, simpatizante desta ou daquela religião decida a seu favor, ou a favor da religião que segue. Isso para mim é uma afronta a constituição federal, não sendo por acaso que a votação terminou em seis votos contra cinco, sendo que os cinco ministros contrários defenderam justamente a laicidade de nosso Estado. E pasmem, coube a presidência da casa, ministra Carmem Lucia dar o voto de minerva, logo ela que é professora da PUC. Sendo assim, no meu ponto de vista, a ministra deveria ter proclamado a sua incapacidade para proferir o seu voto, já que representava naquele momento, mesmo que indiretamente, uma das partes interessadas. Só para esclarecer, todas as PUCs espalhadas Brasil a fora são braços do Vaticano, respondendo diretamente ao mesmo.

É bem verdade que o texto não obriga que o aluno assista as aulas mas, então pergunto: O que estará fazendo o aluno que decidir por não acompanhar a matéria? Ficará em sala de aula tirando um cochilo? Sairá da sala de aula e ficará vagando no pátio da escola até que a aula termine? E as chacotas e "brincadeiras" que estes alunos "rebeldes" ficarão sujeitos? Olha lá o ateuzinho! Olha lá o macumbeiro! 
Fico aqui imaginando as famílias que têm seus filhos, um na escola municipal e o outro em uma escola estadual, onde um irá aprender a respeito da religião A e o outro a respeito da religião B, sendo que seus pais pertencem a religião C. Absurdo! Era só o que me faltava!

Em um país que têm tantas vertentes religiosas e das mais variadas origens, dar o direito que pessoas (escolas) determinem  a favor desta ou daquela religião, é dar munição para ainda mais conflitos sociais, é dar as costas as nossas origens e a nossa própria história quando o assunto é religião. Nos tornamos um país laico justamente porque somos uma nação eclética religiosa. 

Com tantas coisas muito mais importantes para o STF decidir, me resolvem os senhores ministros, justamente num momento de completo caos político, econômico e social, deliberar a respeito de um assunto tão sério e polêmico como este. Parece até que estão querendo desviar a atenção da população. Lamentável!

Na verdade povo de santo (Umbanda e Candomblé), eu quero ir um pouco mais além, tentar entender algumas situações e dar a minha opinião a respeito delas. Entender, por exemplo, por que uma lei polêmica como esta repercutiu e repercute tão pouco no nosso meio? Por que somos fortes para defender interesses pessoais, ou seja, da própria casa de santo e somos tão fracos para defender, ou sequer repercutir a respeito deste assunto que, a bem da verdade, deixa o âmbito pessoal e passa para o coletivo.

Quando um terreiro é invadido, suas imagens são destruídas e seus médiuns agredidos fisicamente, acontece uma avalanche de comentários indignados nas redes sociais. É tanta gente se manifestando que até nos dá a impressão que somos um grupo coeso, envolvido com as mesmas causas e objetivos. Que nada! São oportunistas que seguem a opinião de dois ou três, médium modinha. São pessoas que se dizem de santo, mas que no fundo não estão nem aí para o santo - entenda-se problema - dos outros, pois na verdade olham apenas para os seus próprios umbigos. Em casos assim, fazem cartas de repúdio, passeatas, etc. que, infelizmente, não leva a parte alguma, pois, somos desorganizados e sofremos de uma ausência crônica e profunda de paternidade (representação) política.

Cadê as tantas federações que dizem representar os nossos interesses? Quem são seus dirigentes? São isentos ou representam alguma corrente política partidária? Pelo silêncio...
O quê dirão os pais umbandistas, por exemplo, quando seu filho ou filha chegar em casa dizendo que aprendeu na escola que a religião deles é coisa do capeta? Que adorar imagens contraria as leis de Deus?
Que não existe reencarnação e que ao morrer ou se vai pro céu ou pro inferno? Como podemos ver, a decisão do STF vai muito além do que nos parece ser. Invade o íntimo do indivíduo, invade o íntimo das famílias. E quem serão os maiores beneficiados por esta decisão? As religiões mais bem organizadas e estruturadas e que têm em todos os níveis da política grande representatividade. Fato!

Tenho comigo que o papel do Estado seja o de cuidar da formação educacional cultural do cidadão, ficando para a família a responsabilidade de dar formação moral e até mesmo religiosa se assim achar. Simples assim! Em curtas palavras: A ESCOLA ENSINA E A FAMÍLIA EDUCA. Se não for assim, estaremos dando ao Estado o direito de interferir na educação de nossos filhos. O STF ao afrontar a nossa Carta Magna está autorizando nas entrelinhas que terceiros possam decidir, em detrimento da vontade e origem espiritual das famílias brasileiras, qual a vertente religiosa que a escola apresentará aos alunos. Inacreditável!

Gostaria muito que este texto chega-se ao conhecimento dos milhões de seguidores da Umbanda e do Candomblé no Brasil, de poder sentir e ouvir suas opiniões e sugestões a respeito do assunto, mesmo as opiniões contrárias, afinal, toda a unanimidade é burra, já dizia Rui Barbosa.
De minha parte, vou procurar esclarecer meus médiuns a respeito do assunto e, caso alguns dirigentes queiram reunir-se para discutir o assunto em questão, me coloco a disposição, assim como terei o máximo prazer em abrir minha Casa de Santo para os que tiverem interesse de realizar este encontro.

Que a paz de Oxalá encontre cada um.

Por: Pai Alberto de Oxalá.


4 comentários:

  1. Pai Alberto, eu vi a notícia fiquei indignado, porém não faço uso mais de nenhum tipo de militância em rede social, e dificilmente pessoalmente, por isso você não viu nenhum comentário meu. No ano passado fui ativo a esses acontecimentos e cansei de esbarrar a toda essa indiferença e pouco esclarecimento dos demais. Mas, vamos aos fatos, concordo que não haverá ética religiosa em procurar profissionais que iram demonstrar nas devidas proporções todas as religiões brasileiras. Haverá sim profissionais ativos de suas religiões expondo seus pontos de vista alienado. Hoje já temos reuniões de vereadores e deputados ondem sessões extraordinárias são abertas com preces evangélicas, lugares públicos com a imagens de determinadas religiões, deixando assim o conceito de estado laico de lado. Talvez todo esse silêncio dos nossos irmãos umbandistas se deva a um estado alienado que muitos se encontram, muitos apoiam ideias de um futuro candidato a presidência do Brasil que falou a seguinte frase "essa historinha de estado laico NÃO é ESTADO CRISTÃO.", será que não entenderam a referência? Que também suas crenças estão sendo afetadas por esse pensamento. Nós umbandistas somos minorais não devemos ser contra nenhum tipo de pensamento que exclua minorias isso é contraditório. Acredito também que não deveria ser ensinado nenhuma religião na escola, a religião é um complemento a ciência, não é algo que sobrepõe a ciência em geral. Quando me refiro a ciência, refiro a conhecimento, e conhecimento não é buscado? Porque a religião não deva ser tratada da mesma forma? Escola é lugar de conhecimento, ciência. Esse assunto vai longe, se quiser conversamos mais nas próximas reuniões. Fique na paz de Oxalá.

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    1. Concordo com a sua linha de pensamento, Murilo.Destaco a parte em que você diz que talvez o silêncio dos umbandistas esteja ligado com o estado de alienação que vivem. Creio que todos devemos nos importar com tudo que acontece ao nosso redor, principalmente as questões políticas, pois muitos dos nossos desafios estão ligados a questão. Quanto o seu afastamento das militâncias políticas, entendo, no entanto vou ficar torcendo que a despeito das frustrações que tenha vivido, você não deixe de expor suas opiniões, independentemente das questões partidárias. Somente assim nos tornaremos politizados como um todo e então teremos muito mais argumentos para questionar os absurdos políticos e sociais que o país atravessa.

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  2. orque o ensino no Brasil é um dos piores e mais atrasados do mundo? Porque filosofia e artes não são obrigatórios mas, segundo o stf, religião é, doutrinandio e doutrinando o gado sob uma única crença, não questionem, aceitem, tranquem e joguem a chave fora com o gado preso no curral. Povo manso é tudo que eles querem e isso não é espiritualidade, cada um deveria ter a liberdade de escolha. As outras crenças não são obrigatórias e são ensinadas como folclore? Não irei permitir que ensinem isso a meus filhos de jeito nenhum, a briga vai ser feia! Tenho mais de 30 anos na Educação. Já perdi as contas das vezes em que a Grade Curricular foi alterada pelo MEC. Artes, Música, Religião, Ensino Religioso, Educação Religiosa, Valores e Virtudes, Filosofia e Sociologia já passaram pela cartilha do MEC. À cada ano, surge uma nova orientação da secretaria de educação.
    Eu nunca doutrinei aluno porque eu senti na pele o peso de uma doutrinação. Mas infelizmente uma boa parte das escolas e dos professores, ainda doutrina.
    Religião deveria ser banida da grade curricular. A eacola deve ser laica. Lugare discutir a Diversidade Cultural.
    O estado nunca se preocupou realmente em formar cidadãos conscientes, indivíduos pensantes. Livres e capazes de fazer suas próprias escolhas.

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    1. Concordo inteiramente com o seu ponto de vista, Monique. Principalmente porque você, além de mãe de santo é também professora e que, portanto, conhece muito bem os dois lado da moeda.Realmente, educação religiosa deveria ser banida da grade curricular de nossas escolas.
      Por: Pai Alberto de Oxalá.

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